Créditos: Fanpop
O mais novo filme sobre a lenda dos lobisomens não é apenas uma refilmagem do clássico O Lobisomem, de 1941 com o mito Lon Chaney Jr; sempre foi vendido, desde o anúncio de sua produção, como uma homenagem ao longa original. Por um lado, o diretor Joe Johnston (dos divertidíssimos Querida, Encolhi As Crianças, Jumanji e Jurassic Park 3) consegue recriar o clima sinistro do original e ao mesmo tempo ter criado uma criatura que nem parece ridícula (como as platéias de hoje devem encarar o monstro antigo) nem muito computadorizada. Por outro, não impede o filme de fracassar totalmente como história e decepcionar qualquer espectador que vá à sessão com meio cérebro funcionando.
A história aparentemente é a mesma do filme de 1941: o ator Lawrence Talbot (Benicio Del Toro) retorna dos Estados Unidos para sua terra-natal, a Inglaterra, já que seu irmão desapareceu e quer encontrá-lo. No decorrer da sua investigação, é atacado por um lobisomem e, na próxima lua cheia, se tornará um. Com uma trama tão simples, o que foi que deu tão errado?
Pra começar, a escolha de tornar o filme tão violento. Vemos de tudo em O Lobisomem: decapitações, desmembramentos, tripas à mostra, e muito, mas muito sangue mesmo. Isso tira o charme e o encanto da produção (que emanavam naturalmente do filme original), o que deixa com um gosto amargo do espectador que só queria ver uma boa história sem apelação. Mas dá pra entender essa decisão: era preciso chamar os mais jovens para as salas de cinema, que adoram filmes com altas doses de violência, muitas mortes e sustos fáceis e manjados (esse filme está lotado deles, desde o primeiro minuto).
Já para o roteiro pífio do filme, não encontro explicação, porque Joe Johnston sempre entregava tramas simples, porém bem amarradas. Aqui, a ação é sempre priorizada, chutando qualquer espaço para desenvolvimento de personagens ou passagens explicativas para escanteio. São inúmeros furos, deixando alguns trechos confusos ou até totalmente inexplicados. Por exemplo, num certo momento, vemos a mocinha do filme (Emily Blunt) lendo um livro sobre lobisomens e ciganos. Na próxima cena, ela já está cavalgando procurando a cigana Malena (Geraldine Chaplin), que havia aparecido apenas com Del Toro antes e que supostamente saberia uma cura para o mal de Talbot. E como ela descobriu quem é esta mulher, já que ela é uma cigana desconhecida que mora muito longe da mansão de Blunt? E esse é só um dos exemplos, há outros piores mas que se eu contasse estragaria algumas surpresas do filme (que, aliás, são previsíveis, mas pouco plausíveis, já que alguns personagens mudam drasticamente de personalidade).
Pra piorar, o talentoso elenco surpreendentemente decepciona. Talvez seja o pouco espaço reservardo para uma atuação decente, ou o roteiro fraco, o fato é que não há um só ator do núcleo principal que consiga convencer. Del Toro está apático, Blunt fica o filme inteiro com uma cara de “levemente apreensiva e preocupada”, e o grande Anthony Hopkins, que vive o pai de Talbot, simplesmente diminui na produção, não tendo nenhuma chance para mostrar seu talento: a única cena em que há uma conversa franca entre pai e filho é apressada pelo diretor para ir direto para a ação. Que bola fora.
Pelo menos os aspectos técnicos salvam O Lobisomem do desastre total. As criaturas do filme não são totalmente criadas por computação gráfica, nem são uma fantasia vestida por atores. Foi encontrado um bom equilíbrio, deixando os lobisomens críveis. Isso é um alívio, pois seria muito fácil os efeitos visuais tomarem conta da história. O clima de época também está lá: figurinos e cenários bem-cuidados, além de uma atmosfera amedrontadora nos bosques e acampamentos ciganos da Inglaterra vitoriana. Ou seja, visualmente, o filme é lindo. O problema é que todos os esforços parecem convergir para esse aspecto, e se esqueceram que o essencial é ter uma história bem contada: o resto é secundário. Quando a ordem se inverte, o resultado é óbvio: o filme fica ruim. Se você está a fim de diversão inteligente, é melhor optar pelo clássico de 1941.
FICHA TÉCNICA
Título original: The Wolfman
Ano de lançamento: 2010
Direção: Joe Johnston
Produção: Sean Daniel, Benicio Del Toro, Scott Stuber, Rick Yorn.
Roteiro: Andrew Kevin Walker, David Self, Curt Siodmak (filme de 1941).
Elenco: Benicio Del Toro (Lawrence Talbot / O Lobisomem), Emily Blunt (Gwen Conliffe), Anthony Hopkins (Sir John Talbot), Hugo Weaving (Abberline).
Nota: 4.0