Os irmãos Coen nunca foram diretores que possamos chamar de convencionais. Revitalizaram o gênero policial com Fargo – Uma Comédia de Erros, filmaram uma comédia pra lá de maluca (Queime Depois de Ler) e conseguiram o Oscar de Melhor Filme e Diretor com o extremamente sombrio com Onde os Fracos Não Tem Vez. Os Coen podiam se gabar de ter uma filmografia eclética e impecável – até agora. Este Um Homem Sério só pode ser entendido como uma obra bastante pessoal, mas que não deve agradar em nada o público: a obra possui tantos problemas, que mesmo sendo uma comédia, é impossível dar uma boa risada sequer – no máximo, um sorriso amarelo vez ou outra.
Depois que assisti ao filme, fiquei pasmo pelo filme ter sido indicado para o prêmio máximo da Academia. O filme não é nem de longe um dos 10 melhores do ano! A única explicação que encontrei por parte da crítica (isto é, da parte que não gostou do filme) veio de Rubens Ewald Filho. Ele acredita que, pelo filme ser totalmente voltado para a cultura judia, caiu nas graças de Hollywood, que é o local de trabalho para muitos praticantes de tal religião. Será? Por incrível que pareça, eu acho que é uma boa explicação, porque Um Homem Sério, por seus próprios méritos, conseguiria apenas uma indicação ao Framboesa de Ouro, o Oscar dos piores.
O filme peca, principalmente, pela sua falta de ritmo. Ele gira em torno de Larry Gopnik (Michael Stuhlbarg), um professor que leva uma vida insuportável: sua mulher se separou dele e o expulsou de casa para colocar o amante no lugar; seus filhos só ligam para dinheiro e outras coisas materiais, sem ligar para o pai; está sendo ao mesmo tempo subornado e chantageado por um aluno que foi mal em uma prova da faculdade na qual leciona; ainda por cima, tem que tomar conta de seu irmão que não tem onde morar.
Dos 100 minutos de projeção, os primeiros 70 são reservados para as agruras e sofrimentos de Gopnik. Nesta parte, a trama não avança nem um pouco. Vemos o coitado sofrer sem fazer nada por todo esse tempo, e, mesmo que fiquemos com pena dele, ficar mais de uma hora nessa lengalenga é imperdoável, uma vez que o público cansa sem ver algum grande conflito. Afinal, Um Homem Sério parece mesmo um simples relato da vida de uma homem, não uma história propriamente dita. Apenas na meia hora final o protagonista se rebela e tenta tomar as rédeas de sua própria vida, mas é tarde. O interesse já foi todo perdido.
E por ser uma comédia, é esperado que as pessoas rissem, não é? Não espere gargalhar nesse filme. O estranho é que a última comédia da dupla de diretores, Queime Depois de Ler, mesmo sendo um tanto alternativa, era hilária e foi uma grande surpresa. Esta, no entanto, sustenta-se em piadas repetitivas e outras muito específicas, talvez só compreensíveis para praticantes da religião judaica. Ou seja, Um Homem Sério é um filme arrastado, já que não tem boas piadas ou mesmo uma narrativa envolvente.
Mas, ainda bem, o elenco consegue chamar alguma atenção para o que acontece na tela. O motivo que gostamos tanto de Larry é sem dúvida por causa de Michael Stuhlbarg. Ele passa tanta sinceridade e credibilidade com seu personagem que é impossível não nos preocuparmos com seu destino. Se não fosse por ele, talvez Um Homem Sério se tornasse uma experiência bastante desagradável. Os coadjuvantes também contribuem para tornar Um Homem Sério um pouco mais interessante: Richard Kind, como o irmão de Larry, constrói um personagem melancólico diferente das comédias que ele costuma fazer. Já Fred Melamed (aquele ator que você já viu em várias produções, mas não sabe seu nome) rouba a cena toda a vez como Sy Ableman, o amante da mulher de Larry. Pena que a participação dele seja tão pequena.
A tese dos Coen de que a vida é imprevisível e surpreendente com certeza foi confirmada, mas não nos esqueçamos que isso é um filme, não uma pesquisa científica. Aquele precisa de certos elementos para funcionar, uma boa trama sendo o principal deles. E isso Um Homem Sério não tem.
Se comecei citando um crítico que não gostou do filme, termino com outro que gostou: Roger Ebert. Ele opina que Um Homem Sério seja a recompensa dos Coen pelo reconhecimento de Onde os Fracos Não Têm Vez. Talvez eles tenham criado um filme para que eles possam se divertir – e apenas eles.
FICHA TÉCNICA
Título original: A Serious Man Ano de lançamento: 2009 Direção: Joel e Ethan Coen Produção: Joel e Ethan Coen Roteiro: Joel e Ethan Coen Elenco: Michael Stuhlbarg (Larry), Richard Kind (Arthur), Fred Melamed (Sy), Sari Lennick (Judith). Indicações ao Oscar: Melhor Filme, Melhor Roteiro Original. Nota: 4.0 Próximo post do Especial Oscar: Apostas para o Oscar.