Especial Oscar: Distrito 9 (Dir: Neill Blomkamp)

06/02/2010

 

Créditos: Trashfilmguru

Dentre as indicações-surpresa do Oscar 2010, a de Distrito 9 para a categoria de Melhor Filme foi uma das maiores. Não pelo fato do filme ser ruim (aliás, está longe de ser um), mas sim por ser um filme predominantemente de ação, com vários momentos cômicos (dois gêneros que não costumam figurar nas categorias mais importantes). Verdade seja dita: se não fosse a decisão (equivocada) da Academia de aumentar o número de indicados para o seu prêmio máximo de 5 para 10, Distrito 9 não teria sido indicado. Dizem que ela só fez isso para chamar a atenção do público mais jovem, que não costuma dar bola para a premiação, enquanto a justificativa oficial foi “valorizar os bons filmes feitos todo ano”. Pra mim, a decisão não foi feliz pelo fato de incluir vários filmes que não tem chance nenhuma de ganhar; é, portanto, uma indicação enganadora, traiçoeira. Produções de muita qualidade como Up – Altas Aventuras e este Distrito 9 não tem a mínima chance.

Mas vamos falar do filme em si.  Distrito 9 foi produzido por Peter “Senhor dos Anéis” Jackson e dirigido pelo novato Neill Blomkamp, que também assinou o roteiro junto com Terri Tatchell. Blomkamp, por sua vez, baseou-se num curta que filmou em 2005, chamado Alive em Joburg. As duas histórias têm basicamente o mesmo enredo: alienígenas buscam refúgio em Johanesburgo, África do Sul após algum tipo de conflito em seu planeta natal. Os humanos, mostrando o quanto são acolhedores e caridosos, despejam os ETs em um abrigo temporário que logo se torna definitivo e um gueto com o tempo – o Distrito 9 do título. Após décadas de convivência, humanos e “camarões” (apelido dos alienígenas – dado pelos humanos, obviamente) se odeiam e quaisquer ações sobre o assunto ficam dificultadas. É aqui que entra o protagonista da história, Wikus van Der Merwe (tente pronunciar isso!), interpretado por Sharlto Copley. Responsável por transferir os aliens para um local mais afastado, ele acidentalmente entra em contato com uma substância que o faz se tornar, pouco a pouco, um “camarão”! A partir daí, ele tem que escapar de uma organização a qual ele próprio fazia parte, que pretende usá-lo para manipular armas dos alienígenas (humanos não conseguem usá-las), além de procurar uma cura antes que ele se torne um extraterrestre para sempre.

Distrito 9 é um sopro de ar fresco nas produções do gênero, com um dos roteiros mais bizarros e ainda assim pra lá de criativos dos últimos tempos. Desse motivo devem ter resultado as indicações à Melhor Filme e Melhor Roteiro. A história é contada de modo documental, com câmeras trêmulas nas seqüências de ação e depoimentos dos personagens ao longo do filme. O recurso, apesar de batido, consegue imprimir um tom realista à história, o que faz o público realmente prestar atenção ao que está acontecendo. O filme também se aproveita do carisma quase automático de Van Der Merwe, um trapalhão clássico, para fisgar a platéia. Vale aqui minhas palmas para Copley, que se mostra totalmente à vontade no seu personagem, mesmo este sendo seu primeiro papel em um longa-metragem. Outro acerto certeiro da produção é sutilmente inserir críticas sociais, a principal delas sendo a discriminação. Não é por coincidência que o local escolhido para o desenvolvimento da trama foi a África do Sul, local onde ocorreu o apartheid, que teve como símbolo de resistência o ex-presidente Nelson Mandela. Blomkamp aqui mostra com carga total a insensibilidade dos humanos, brancos ou negros, que tratam os alienígenas como se eles fossem contagiosos. Para o diretor e roteirista, todos os humanos são os vilões – nós torcemos mesmo, durante toda a projeção, para os alienígenas.

A parte técnica da obra é um capítulo à parte. Blomkamp, que já trabalhou em vários filmes como técnico de efeitos visuais, foi minucioso com esse aspecto de seu filme. Os ETs são incrivelmente bem feitos e naturais, tanto que nem parecem que foram adicionados digitalmente. A direção de arte se esforçou para ser pioneira e criar objetos e seres que não se parecessem com nada visto antes no cinema. E conseguiram. Os aliens contém tantos detalhes que é impossível perceber todos graças ao rápido ritmo da narrativa; as armas e a nave são extraordinárias e belas. As cenas de ação – todas de tirar o fôlego – são muito bem editadas (dá pra ver o que está acontecendo! Aprenda, Michael Bay!), com cada quadro oferecendo algo interessante ao público. A fotografia é sensacional ao usar basicamente apenas filtros amarelos, o que dá uma correta sensação de sequidão ao local onde se passa a história.

Se há algum erro no filme, este erro está no desenvolvimento dos personagens e na segunda parte da história. Nenhum personagem, seja ele alienígena ou humano, é bem trabalhado – todos são superficiais, até mesmo o protagonista. Os “vilões” do filme, que caçam Mikus, mal aparecem, o que poderia ter rendido boas cenas mostrando o outro lado da história. E os alienígenas – os mais interessantes de todos – ficam sempre em segundo plano. E se o conflito apresentado aqui é um dos mais criativos dos últimos tempos, ele é praticamente jogado para o alto na sua segunda metade, quando uma sucessão de clichês aparece na tela (caçador torna-se caçado / alia-se a antigos inimigos / torna-se amigo deles…a lista não pára), além de os primeiros furos de roteiro começarem a aparecer, como os dois protagonistas (Mikus e um “amigo” alienígena) invadindo um local de segurança máxima e nada acontecendo com eles.

Distrito 9 é um filme que diverte, e por isso é bom. Mas suas limitações o impedem de ser ótimo – e são elas que tiram qualquer chance dele ganhar o Oscar de Melhor Filme e Melhor Roteiro. Como Efeitos Visuais já é de Avatar, a única real chance de um Oscar para o filme é para Melhor Edição. Mas é uma grata surpresa, e seria bom se os filmes de ação fossem mais como Distrito 9.

 FICHA TÉCNICA

Título original:  District 9
Ano de lançamento: 2009
Direção: Neill Blomkamp
Produção: Peter Jackson e Carolynne Cunningham.
Roteiro: Neill Blomkamp e Terri Tatchell
Elenco: Sharlto Copley (Mikus Van Der Merwe).
Indicações ao Oscar: Melhor Filme, Melhor Roteiro Adaptado, Melhores Efeitos Visuais, Melhor Edição.
 
Nota: 7.0
 
Próximos filmes do Especial Oscar: post duplo com Up – Altas Aventuras (Up) e Guerra ao Terror (The Hurt Locker).