Terror na Água (Dir: David R. Ellis)

Sara (Sarah Paxton) é ataca por tubarão em filme pouco memorável; 3D se destaca

A tecnologia 3D veio para ficar? Ainda é cedo para dizer. Os filmes em três dimensões já experimentaram um curto apogeu nos anos 50, mas, em poucos anos, caíram no esquecimento. Foi só recentemente que uma nova fase surgiu, mais aprimorada tecnologicamente, proporcionando imagens em perspectiva que não cansam tanto a vista dos espectadores (um dos principais fatores que causaram a derrocada do 3D na década de 50). Mas, se o aspecto técnico melhorou, não se pode dizer o mesmo do conteúdo. Para cada obra-prima como Avatar, de James Cameron, temos um sem fim de produções caça-níqueis, cujo único objetivo é capitalizar em cima do recurso, já que os ingressos para filmes em três dimensões são mais caros que os normais. Obviamente, esse segundo tipo apresenta uma qualidade bastante duvidosa: sem o 3D, seriam um longa sem qualquer atrativo.

Terror na Água (uma tradução bastante genérica para o bom título original, Shark Night – Noite dos Tubarões, em português) se encaixa na segunda categoria. É um filme na linha do medíocre, servindo apenas como um passatempo para quem não tem mais nada para fazer. Não fosse o “fator 3D” e os efeitos visuais um pouco mais caprichados do que o usual, a produção poderia muito bem se passar por um filme para TV. Há quem consiga se divertir com a história, mas para aqueles que, como eu, ansiavam por um sucessor de Tubarão (lançado há mais de 35 anos), não dá pra negar que Terror na Água seja decepcionante. Na verdade, a fita mais tenta beber da fonte do clássico de Spielberg (como se pode comprovar já na cena de abertura) do que renová-lo. Talvez Tubarão ainda não precise de uma revitalização de tão bom que é, mas o fato é que, se colocarmos os dois filmes lado a lado, Terror na Água sai perdendo em todos os quesitos.

Mas é melhor encerrarmos por aqui as comparações, já que Tubarão é um legítimo blockbuster (o primeiro, aliás) dirigido por um dos cineastas mais promissores da época, enquanto que Terror na Água está mais pra um tapa-buraco na programação dos cinemas, com direção (David R. Ellis, de bombas como Celular, Premonição 4 e Serpentes a Bordo) e elenco de segunda (Katherine McPhee, do American Idol? Por Deus!): são dois pesos e duas medidas.

Ellis parece ter fobia de inovar, já que praticamente nenhuma cena traz algo de novo: fica-se com aquela sensação de “já vi isso em algum lugar…” durante toda a projeção de Terror na Água. Os clichês vão se amontoando minuto a minuto: temos a viagem para um local isolado (que obviamente não tem sinal de celular, para dificultar a vida dos jovens/presuntos da vez), a mocinha e o mocinho recatados como protagonistas (e que, surpresa, duram até o final, sorte não compartilhada pelo resto do grupo), tentativas frustradas de fuga e, claro, uma reviravolta. Ok, admito que ela me pegou de surpresa, mas é daquelas surpresas que pioram com o tempo, já que ela não faz sentido algum. Pelo menos o ponto de virada do filme é original, trazendo um pouco de suspense à trama, apesar da falta de plausibilidade. As novas informações apresentadas atiçam a nossa curiosidade, mas só: o filme não fica melhor por causa disso. Ao contrário, logo depois da explicação sobre como tubarões foram parar em um lago, Terror na Água volta a ser o filmeco que era, com uma narrativa extremamente convencional e que pode arrancar bocejos até nas cenas de ação.

O que salva o filme é o 3D, por incrível que pareça. Enquanto que muitas produções meia-boca ou desperdiçam a tecnologia com efeitos quase imperceptíveis ou são convertidas por terem sido filmados em duas dimensões (o que quase nunca dá certo se o processo não é feito com esmero – o último filme do Harry Potter está aí pra provar), Terror na Água consegue fazer diferença, principalmente nas cenas submarinas. Quando adota-se o ponto de vista de um tubarão ou algum personagem está debaixo d’água, o que acontece várias vezes durante a fita, tem-se a impressão de que estamos junto com os personagens. A sensação de profundidade é simplesmente espetacular, e isso vindo de alguém que já viu mais de uma dezena de filmes em três dimensões, convertidos ou não. Os tubarões também não estão risíveis como era de se esperar: estão bem irreais, é claro, mas pelo menos convencem nos movimentos e nas cenas de perseguição e, digamos, “alimentação”.

Provavelmente o filme teria sido mais agradável de se assistir se fosse um pouco mais satírico e bem-humorado (uma sacada que foi muito bem aproveitada em no recente remake de Piranha), mas, infelizmente, um longa desse calibre nem tem a capacidade de rir de si mesmo. Com uma produção desleixada, Terror na Água arruína todas as chances de se tornar ao menos um pouquinho memorável.

Esse é um daqueles filmes pra se ver e esquecer assim que as luzes do cinema se acendem. É só mais um na cada vez mais longa fila de produções que só querem lucrar com o mercado 3D, que continua com uma boa demanda. Então, a má qualidade dos atuais filmes em três dimensões está um pouco nas nossas costas: enquanto houver gente para assisti-los, Hollywood continuará fazendo-os. O público e os estúdios saem ganhando: quem sai perdendo é o cinema.

FICHA TÉCNICA
 
Título original: Shark Night 3D
Ano de lançamento: 2011
Direção: David R. Ellis
Produção: Chris Briggs, Mike Fleiss, Lynette Howell
Roteiro: Will Hayes, Jesse Studenberg
Duração: 91 minutos
Elenco: Sara Paxton (Sara), Dustin Mulligan (Nick), Chris Carmack (Dennis), Katherine McPhee (Beth)
 
Nota: 4.0

3 Responses to Terror na Água (Dir: David R. Ellis)

  1. Quero assistir, tenho uma queda por essas diversões trash.

    http://cinelupinha.blogspot.com/

  2. Outra mania (e imposição) atual que me irrita profundamente é o 3D. Não o recurso em si, mas o mercenarismo de utilizá-lo em qualquer filme e de qualquer forma. Quando o projeto é feito com o propósito ou quando realmente auxilia o filme (Tron: Legacy, por exemplo) é aceitável. Agora, qual o motivo do 3D nessa tranqueira trash? Encher os cofres dos estúdios e dos executivos que não entendem nada sobre a 7a Arte, vender muita pipoca e refrigerante e proporcionar algumas horas de escapismo de péssima qualidade para quem não tem muito critério.

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