Projeto Hitchcock: A Mulher do Fazendeiro (1928)

“Para mim, o cinema não é uma fatia da vida, mas sim uma pedaço de bolo” Alfred Hitchcock

Créditos: DVD Continental

Quem conhece a obra de Alfred Hitchcock e assiste a A Mulher do Fazendeiro pela primeira vez pode se surpreender ao descobrir que se trata de um filme do Mestre do Suspense. Afinal, o filme é uma comédia romântica das mais bobinhas. No entanto, apesar de não ser um filme relevante na carreira de Hitchcock, ele certamente tem várias qualidades, algumas que vão permanecer em suas produções posteriores.

A Mulher do Fazendeiro conta a história de Sweetland (Jameson Thomas), um agricultor que, após se tornar viúvo, decide se casar novamente. Orgulhoso, acredita que todas as mulheres do vilarejo onde vive vão cair a seus pés, mas na verdade ocorre a situação contrária: é rejeitado por todas as suas pretendentes. À medida que vai sendo humilhado pelas mulheres, o fazendeiro começa a perceber que sua empregada, Araminta (Lillian Hall-Davis), está apaixonada por ele.

O filme funciona basicamente por ser muito simples. Não há nenhum traço de suspense na trama: o que se vê na tela é uma sucessão básica de ações: fazendeiro fica viúvo – fazendo procura esposas – fazendeiro é rejeitado – fazendeiro se torna humilde e finalmente encontra o amor. Por isso, e além do filme ser mudo, as plateias de hoje não devem achar o longa interessante.

Mas, por incrível que pareça, grande parte de seu humor não envelheceu. Composto basicamente por gags físicas (por motivos óbvios, não se podia contar com o diálogo – aliás, até poderia, mas aí o filme ficaria com muitas legendas, algo que o Mestre não aprovava), A Mulher do Fazendeiro ainda consegue divertir o espectador mais contemporâneo. O destaque vai para Gordon Harker, que, interpretando o ranzinza Churdles Ash, arranca muitas risadas na maioria das cenas em que aparece. A maior força do filme reside na comédia, que reapareceria na maioria dos filmes futuros de Hitchcock, embora em dose menor que o suspense.

Aqui, pode-se perceber (apenas) algumas vezes exemplos da criatividade de Hitchcock em filmar as cenas do filme. Ele faz uso de técnicas que naquela época não eram tão utilizadas, como zooms rápidos e sobreposição de imagens, tudo para avançar a história e não para deixar o filme mais “sofisticado”. A Mulher do Fazendeiro parece ser mais uma oportunidade para um jovem cineasta experimentar as infinitas possibilidades de como se filmar uma história, do que um filme de Hitchcock propriamente dito. E aqui ele mostra estar aprendendo, construindo uma narrativa simples, porém eficiente.

Se existem falhas, elas não comprometem o conjunto da obra. O filme sofre de problemas de ritmo no começo, demorando um pouco para “engrenar”. A construção de personagens, muitas vezes menosprezada no cinema de Hitchcock, aqui pelo menos faz falta (a identificação com os personagens é mais importante num filme de comédia romântica do que num de suspense). Se o fazendeiro possui um arco dramático, começando arrogante e terminando humilde, a empregada passa o filme inteiro em segundo plano. Ou seja, a platéia não se concentra na mocinha do filme, que pode ser considerada uma boba sem sal. Mesmo estando apaixonada, não faz nada para chamar a atenção de seu patrão. Mesmo com toda a simpatia da Hall-Davis, a personagem simplesmente não convence.

Como já foi dito, considero A Mulher do Fazendeiro muito mais um experimento que uma obra de Hitchcock, mas foi importante para que o Mestre conhecesse melhor as técnicas cinematográficas e pudesse filmar os clássicos que conhecemos hoje.

FICHA TÉCNICA

Título original: The Farmer’s Wife
Ano de lançamento: 1928
Direção: Alfred Hitchcock
Produção: Não fornecido
Roteiro: Leslie Arliss, Alfred Hitchcock, J.E. Hunter, Norman Lee, Eliot Stannard, baseados na peça de Eden Phillpotts
Duração: 100 minutos
Elenco: Jameson Thomas (Sweetland), Lillian Hall-Davis (Araminta), Gordon Harker (Churdles Ash), Gibb McLaughlin (Henry Coaker).
 
Nota: 5.0

6 Responses to Projeto Hitchcock: A Mulher do Fazendeiro (1928)

  1. […] em sua fase americana são muito mais ricas e envolventes que algumas de sua fase muda (como A Mulher do Fazendeiro e este O […]

  2. […] de assistir três das obras mais antigas de Hitchcock (A Mulher do Fazendeiro, O Inquilino e O Ringue) que foram, no mínimo, divertidas e/ou bem dirigidas, assistir a Champagne […]

  3. Ana Paula Chagas disse:

    Nessa época, Hitch tinha que aceitar projetos impostos pelo estúdio muito porque ainda não era um cineasta de renome e com poder de decisão. Mesmo assim, genial como era, sempre imprimia sua marca com inovações técnicas ou pitadas de seu senso de humor peculiar.
    Obs:preciso rever esse filme com urgência.

  4. […] como em A Mulher do Fazendeiro, Hitchcock também faz algumas experimentações cinematográficas interessantes. A primeiríssima […]

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